Quarta-feira, 30 de Junho de 2004
Deliciei-me com a glória
de subir no Olimpo.
Mal escondo o orgulho
e a vaidade de brilhar
junto dos Deuses.
Mas olhando p'ra baixo,
pergunto à razão,
quem sou, ao que vim?
Sou feito de pequenos nadas,
de pequenas grandezas,
mas também de fraquezas.
Afinal sou humano,
sou um pobre mortal,
como qualquer outro ser!
Sou caminheiro errante,
sou andadeiro incessante,
escrevo e canto,
sou gente desta gente,
deste povo simples,
deste povo somente.
E o brilho
desvaneceu-se sobre mim,
desci e chorei.
Não por não ser um Deus,
mas por um instante,
pensar que sim.
autor: Jorge Assunção
2004 / 03 / 10
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Sábado, 26 de Junho de 2004
Irritam-me
cegueiras
diurnas
Mais ainda
traças
noctâmbulas
Irrita-me
o estado
nímio da
opressão
Clamo
liberdades
esquecidas
e claudicas
Irrita-me
falsas
clarinadas
...irrita-me!
autor: Jorge Assunção
2004 / 06 / 22
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Sexta-feira, 25 de Junho de 2004
Irrita-me
a justiça
dos injustos
A cega
realidade
dos ávaros
Partituras
estridentes
de surdo/mudos
Cansa-me
fazer-lhes frente
Desmascarar
cada um deles
Irrita-me
a injustiça
...irrita-me!
autor: Jorge Assunção
2004 / 06 / 22
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Quinta-feira, 24 de Junho de 2004
Tenho de fazer algo
Abrir os olhos
ver longe
Águia
de visão
acutilante
Gazela
atenta
na estepe
Olhar e ver
Apreender
apagar fogos
por mim ateados
Deixar-me
ao relento
Ficar sedento
faminto
...purgar!
Tenho de fazer algo
autor: Jorge Assunção
2004 / 06 / 22
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Quarta-feira, 23 de Junho de 2004
Tenho de fazer algo
Ah! Se tenho!
É um logro
esta vida
que trago
Engodo
por peixes
rejeitado
Malogro de cães
a um osso
Tenho de ser
ganhador
afastar os canídeos
e vencer.
O osso é meu!
Tenho de fazer algo
autor: Jorge Assunção
2004 / 06 / 22
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Terça-feira, 22 de Junho de 2004
Tenho de fazer algo
Romper
redes de marasmo
rasgar teias
Quebrar
paredes meias
Escrever mais e mais
Gastar
resmas de papel
litros de tinta
azul permanente
Sobram-me ideias vazias
telas rasgadas
Papel em tiras
amontoadas
Letras e letras
soltas e apagadas
Tenho de fazer algo
autor: Jorge Assunção
2004 / 06 / 22
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Sexta-feira, 18 de Junho de 2004
Vou
Escrever
o que não devo
Dizer
o que não sei
Amar
o que não quero
Ter
o que não posso
Dar
o que não tenho
Receber
o que não dás
Calar
o que não falo
Lembrar
o que não esqueço
Correr
o que não ando
Olhar
o que não vejo
Matar
o que não vivo
autor: Jorge Assunção
2004 / 06 / 16
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Quarta-feira, 16 de Junho de 2004
Em tudo peguei
para te escrever
Somei e subtraí
palavras e letras
Tirei pontos
travessões
Paragrafos
exclamações
Somei
frases completas
virgulas apaguei
Não sou mais
quem te diz
palavras de paixão
É a minha pluma
sobre o papel
Guiada por
minha mão
Digo amo-te
escrevo adoro-te
Beijo teus olhos
fito tua boca
Mordo teus lábios
roço teus seios
Com esta salada
leve de letras
Penetro em ti
esta bela canção
autor: Jorge Assunção
2004 / 06 / 16
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Segunda-feira, 14 de Junho de 2004
Tremi de verde
açoitado p'lo vento
estiquei minhas raízes
o mais fundo
que consegui
Cresci
forte e largo
alonguei meus braços
dei sombras
a quem de mim
se albergou
Travei batalhas
com ventos fortes
tempestades de areia
mas sou manso
Meu nome?
Pinheiro
e quero verde
viver!
autor: Jorge Assunção
2004 / 06 / 10
Postado inicialmente em
Safadinhaemuito
Sábado, 12 de Junho de 2004
Amando-te
quis escrever-me
uma carta de amor
em ela pôr teu
aroma de mulher
Peguei no papel
em côr azul
no mesmo tom
dos teus olhos
Usei no aparo
aquela tinta
carmin rosado
no mesmo sabor
dos teus lábios
Li e reli
vezes sem conta
a única palavra
que ela continha
AMO-TE !
autor: Jorge Assunção
2004 / 06 / 12
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Sexta-feira, 11 de Junho de 2004
És planalto
de sete pontas
estrelado
e de verdejantes
encostas
Do Liceu
ás Portas do Sol
do Outeiro da Forca
a Olivença
do Moínho do Fau
ao Campo da Feira
e Bairro Salazar
Banhas-te
p'lo Tejo a nascente
alimentas-te
das Lezírias
de tão vastas que são
A poente namoras
Os Bairros
ricos de olivais
e vinhas
namoras ainda
as suas gentes
És Xantarim
dos Mouros
Scalábis
dos Romanos
És de todos
nobre Santarém
autor: Jorge Assunção
2004 / 06 / 10
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Quarta-feira, 9 de Junho de 2004
Ah! Terra Mãe
que me viste nascer,
Recebeste em teu colo
poetas
e escritores
Aleitaste
Visigodos e Mouros
albergaste Romanos
e outros quantos povos...
Baloiçaste
militares e navegantes
cléricos, princípes
e leitores de Cervantes
Alimentaste
e deste de beber
a tanta gente...
dançaste
o fandango
de trás para a frente
Ah! Terra Mãe
madrasta velha
de nome Santarém
autor: Jorge Assunção
2004 / 06 / 07
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Terça-feira, 8 de Junho de 2004
Onde foi Amor
que nos perdemos
Em que esquina
nos desencontrámos
Em que cruzamento da vida
separámos nossos rumos
nossas prioridades
Em que paragem
arrefeceu nosso coração
Onde foi Amor
que eludimos
nosso olhar
Que trocámos carinhos
por dissabores
Onde trocámos beijos
por discussão
Onde foi que matámos
a nossa Paixão?
autor: Jorge Assunção
2004 / 06 / 05
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Domingo, 6 de Junho de 2004
Dizem-me alguns
que escrevo vertiginosamente
poemas de amor
versos de encantar
Que o faço com sentir
que amo como o faço
nem precisam pedir
que o faça noutro espaço
São frases curtas
e rápidas
pétalas de murtas
concisas e práticas
São palavras
de amor e paixão
são simples palavras
escritas no coração
Escrevo assim
apaixonadamente
como dizem de mim
vertiginosamente
autor: Jorge Assunção
2004 / 06 / 05
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Quinta-feira, 3 de Junho de 2004
Tenho sede de escrever
como tenho de beber
Tenho fome de ler
tanta como de te ter
Tenho sede de correr
como de voar
Tenho esta necessidade
de a todos contar
Os gritos que quero dar
tenho de partir a correr
navegar para outro lugar
Tenho sede de mar
sede de outros portos
Quero ter gosto a sal
revitalisar beijos mortos
Quero amarar em ti
sentir teus salpicos
borrifarem meu corpo
Tenho sede de escrever
vem amar-me devagar
Tenho sede de dizer
que te quero amar
autor: Jorge Assunção
2004 / 06 / 03
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Quis beber de outra fonte
molhar os lábios
em outras águas
saciar a sede de ti.
Quis comer de outro pão
comer farinha
de outras sementes
saciar a fome de ti.
Quis voar em outros céus
procurar outro azul
olhar de mais alto
pousar de novo em ti.
Quis beber de outra fonte
Quis beber da água em ti!
autor: Jorge Assunção
2004/06/03
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